segunda-feira, 8 de março de 2010

MEMORIAL

Maria Nailce de Almeida Guerreiro

O início

Nasci há 17 de março no ano de 1956, no interior do município de Tabuleiro do Norte-CE. Sou a quinta filha de uma família de oito irmãos, sendo quatro irmãos e quatro irmãs, pertencentes a classe popular, não tínhamos muitos bens materiais mas éramos felizes, com toda aquela simplicidade que só as crianças ou os sábios são capazes de sentir. Meu pai, hoje aposentado como ex-combatente da Força Expedicionária Brasileira, e minha mãe, uma senhora digna de ser chamada senhora do lar. Embora com pouco conhecimento em leitura e escrita, tinham experiência letrada, preocupavam-se em orientar os filhos para o estudo, pois diziam sempre que a única herança que podiam deixar para os filhos era o conhecimento, a profissão. E foi nessa concepção que eles não mediram esforços para alcançar essa grande conquista: a formação acadêmica de todos.
Quando eu nasci, meu pai era agricultor e sobrevivia da colheita de produtos, como feijão, milho, mandioca, algodão, jerimun, entre outros. Além da labuta no campo, ele também tinha experiência em atividades de pedreiro. E foi através dessas habilidades que teve a iniciativa de mudar-se com sua família para a cidade porque queria colocar os seus filhos para estudar, pois na cidade oferecia melhores oportunidades para a educação da família. Assim fui crescendo sempre rodeada pela minha família e aprendendo na interação com meus irmãos. Não tenho muitas recordações da minha primeira infância, apenas fatos isolados ficaram gravados em minha memória, mas o que ficou marcado dessa época foi a vida em família e as horas em que juntamente com meus irmãos e coleguinhas da rua, brincávamos de esconde-esconde, bandeirante, mata-mata, dentre muitas outras. Na adolescência, quem não lembra também dos namoricos na pracinha da cidade, das tertúlias no clube aos domingos? Foi lá que eu comecei a namorar aos 17 anos de idade. Quanto tempo bom! Logo em 1975, conheci um belo rapaz José Chaves Guerreiro namoramos por dois anos, casamos ainda muito jovens, formando uma casal que se ama profundamente. Da nossa união, nasceram três lindas garotas Kerley(29), Kílvia(23) e Karine(17), minhas fãs, minhas princesas, o meu xodó. A minha família é unida e maravilhosa, tenho um ótimo relacionamento com todos, vivemos em completa felicidade.

Minha vida escolar
Minha vida escolar iniciou aos seis anos numa escolinha particular para que eu fosse alfabetizada. As recordações desse período são muito fortes: lembro-me com clareza da minha primeira professora, pois devido ser muito carrasca, me amarrava ao pé da mesa para que aprendesse a lição da carta de ABC e foi dessa maneira que consegui me alfabetizar, porém nunca esqueci das cenas grosseiras por quais passei. No entanto, toda exigência só veio me beneficiar porque no ano seguinte, já com sete anos, a idade exigida pela rede pública de ensino, tive a oportunidade de ingressar no 1º ano primário no Grupo Escolar Avelino Magalhães. Quantas recordações boas das minhas professoras primárias, principalmente a do 2º ano a D. Lourdes paciente, bondosa, carinhosa. Lembro-me ainda do processo de leitura e de escrita - todos os dias tinha o momento em que os alunos davam a lição, ou seja os professores mandavam os alunos lêem os textos nos livros de Português para medir o grau de desenvoltura na leitura, não questionavam se os alunos tinham entendido ou não a mensagem do texto, nem mesmo orientá-los para uma reflexão e interpretação; e o momento da escrita era feita através de atividades escritas orientadas na sala, e passavam também para casa, utilizam um método totalmente tradicional. Não existia incentivo à leitura de livros paradidáticos, tampouco contação de histórias. E foi nessa escola da rede estadual que concluí as séries primárias. O ginasial, assim era a nomenclatura na época, não foi diferente, o método utilizado era o mesmo: as aulas ministradas pelo professor eram expositivas, davam conteúdo, alunos resolviam as atividades propostas, estudavam os capítulos para fazer as provas no final de cada mês. A escrita era cobrada nas correções de atividades de classe e de casa, de redações e quando eram exigidas, através de temas soltos, descontextualizados. Quem não lembra desses temas “Minhas Férias”, O mesmo processo perdurou por todo o 2º Grau, só com algumas diferenças, pois os professores orientavam trabalhos escritos para serem pesquisados na própria biblioteca do colégio. Leitura de livros, revistas, jornais, isso não existia, por isso que a nossa geração sentiu muita dificuldade quando enfrentamos o vestibular porque os professores não deram nenhuma orientação. Concluí o 2º grau no Colégio Nossa Senhora das Brotas, no município de Tabuleiro do Norte, em 1974.
Sempre fui uma aluna estudiosa, dedicada aos estudos, porém não tinha hábitos de leitura até porque a escola não incentivava os alunos a lêem por lazer e sim por obrigação. As horas que eu passava na escola foram as melhores da minha vida, o estudo, as brincadeiras recreativas, os treinos de volei. Eu tinha amor ao esporte, participei de Olímpíadas Jaguaribanas em nosso município e em município vizinho, foram eventos maravilhosos e que muito marcaram a minha adolescência. Só lembranças, só lembranças!!!

A universidade: um sonho, um trabalho, um compromisso

No mesmo ano em que concluí o Ensino Médio, prestei vestibular e iniciei em 1975 o curso de Licenciatura Plena na área de Letras. Para fazer esse curso na FAFIDAM, na cidade de Limoeiro do Norte, eu tinha que viajar aproximadamente uma distância de 30 km, toda noite, em Rural, pois na época não existia ônibus. Foram muitas dificuldades por quais passei para concluir a minha graduação, uma vez que meus pais não tinham condições financeiras satisfatórias, mas com toda boa vontade, e dedicação venci essa etapa em 1978. Ainda cursando a universidade, em 1977 tive o privilégio de meu pai ser eleito prefeito de Tabuleiro do Norte, onde administrou por seis anos. Nessa época tudo melhorou, pois através dos políticos que o apoiavam, conseguiu um contrato pela rede estadual para exercer o cargo de professora e, com muita garra e determinação, exerci as atividades docentes em fevereiro de 1977, iniciei ensinando as séries iniciais do Ensino Fundamental, permanecendo por quatro anos.
O sentimento de ser professora começou a crescer, quando em 1982 fui convidada a lecionar no Ensino Médio. Mergulhei nos livros e assumi as aulas de Língua Portuguesa, Literatura e Língua Estrangeira na Escola de Ensino Médio Francisco Moreira Filho, onde permaneci por 14 anos. Foi uma experiência muito valiosa, o meu aprendizado melhorou bastante. Nessa época fui adquirindo uma visão diferente de leitura, pois percebi que a leitura se fazia necessária para que eu me preparasse melhor na minha prática docente. Não foi fácil ministrar as referidas disciplinas, mas através do meu compromisso e responsabilidade com a educação consegui, através de muito estudo e de leituras mais abrangentes, superar as dificuldades encontradas, e foi assim que me tornei um profissional mais eficiente.
Com o surgimento do edital do concurso para gestor escolar em 1995, me inscrevi para participar do processo de seleção. Outro desafio à minha frente, pois continuei estudando e me preparando, fui aprovada e assumi a direção da Escola de Ensino Fundamental Manoel Castro Filho, no interior da cidade por um período de três anos (1996 a 1998), outra experiência riquíssima na minha vida profissional. Porém a vontade de crescer não parou, fiz um curso semi-presencial “Especialização em Planejamento Educacional” pela Universidade Salgado de Oliveira do Rio de Janeiro. Quando no ano de 1998, novamente participei do processo de seleção para Gestão Escolar, só que agora para exercer a função de Coordenadora Pedagógica na mesma escola citada anteriormente, para o período de 1999 a 2001. Dediquei-me de corpo e alma tanto às ações administrativas quanto às pedagógicas. Foi muito gratificante todo o meu empenho nos trabalhos nesta escola, pois acrescentou ao meu currículo experiências valiosíssimas. Aconteceu que em 2001 tornei a participar do processo seletivo para gestor escolar, aprovei e assumi a coordenação pedagógica na Escola de Ensino Fundamental Nossa Senhora de Fátima, onde permaneci nessa função por um período de duas gestões ininterruptas (2002 a 2008). Nessa última gestão, fui contemplada com outro curso semi-presencial em Gestão Escolar, oferecido pelo Estado do Ceará em parceria com a Universidade de Santa Catarina. O curso me trouxe muitas oportunidades, dentre elas, o conhecimento de vários autores como Paulo Freire, Vigotsky, Wallon e outros. Livros lidos: Avaliação de Aprendizagem Escolar de Luckesi, Avaliação do Processo Ensino Aprendizagem de Regina Cazaux Haudt, Avaliação Emancipatória de Ana Maria Saul, Avaliação: mito & desafio uma perspectiva construtivista de Jussara Hoffmann. Estas leituras e outras muito acrescentaram ao meu conhecimento, tornando-se não somente uma aquisição individual, mas uma das possibilidades de desenvolvimento intelectual que refletiram na minha vida profissional e em sociedade.
Todos esses anos de trabalho somaram-se em trinta e um anos. Hoje com 53 anos de idade estou afastada das atividades em docência da rede estadual, porém fui premiada com um convite da Secretária Municipal de Educação para exercer a função de subsecretária e hoje estou feliz em continuar contribuindo com o meu trabalho na Secretaria Municipal de Educação, na perspectiva de melhorar a qualidade da educação no meu município Tabuleiro. Logo que assumi, fui privilegiada com a coordenação do Programa Gestão de Aprendizagem – GESTAR II, o qual está oferecendo uma proposta pedagógica inovadora, com a finalidade de melhorar a prática docente e, consequentemente, o aprendizado significativo do educando.
As experiências adquiridas nas diferentes escolas da rede de ensino estadual possibilitaram-me o conhecimento de diferentes contextos. E concluo afirmando que todos os desafios enfrentados serviram de enriquecimento tanto na minha vida profissional, quanto na pessoal.


MINHAS FILHAS E EU.

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